terça-feira, 11 de setembro de 2007

MOISÉS

MOISÉS
Arrastado (ou, em egípcio, mesu, “filho”, por isso, Ramsés, filho real).

A convite de Faraó (Gn 45:17-25), Jacó e os seus filhos mudaram-se para o Egipto. Esta mudança teve lugar cerda de 350 anos antes do nascimento de Moisés. Alguns séculos antes de José, o Egipto fora conquistado por uma raça semítica pastoril vinda da Ásia, os Hiksos, que submeteram cruelmente os nativos daquele país. Estes pertenciam a uma raça africana. Jacó e o seu séquito estavam acostumados à vida pastoril e ao chegarem ao Egipto, foram recebidos com boa vontade pelo rei, que lhes deu “o melhor da terra”, a terra de Gosen, onde eles passaram a morar. O rei hiksos ou “pastor” que, assim, mostrou boa vontade para com José e a sua família foi, mais provavelmente, o Faraó Apopi (ou Apopis).
Assim favorecidos, os israelitas “multiplicaram-se muito” (Gn 47:27) e estenderam-se para oeste e para sul. Com o tempo, a supremacia dos Hiksos terminou. Foi permitido aos israelitas manterem a terra de Gosen na sua possessão sem serem perturbados mas após a morte de José, a posição deles deixou de ser tão favorável. Os egípcios começaram a desprezá-los e o período da sua “aflição” (Gn 15:13) começou. Foram severamente oprimidos. Continuaram, contudo, a multiplicar-se e “a terra estava cheia deles” (Ex 1:7). Os egípcios olhavam para eles de um modo suspeito e o povo passou a sentir a dureza da luta pela sobrevivência.
Com o tempo, “levantou-se um rei que não conhecia José” (Ex 1:8). As circunstâncias eram tais, que o rei julgou necessário tornar mais fracos os seus súbditos israelitas através da opressão e, assim, gradualmente, reduzir o seu número. Foram feitos escravos e utilizados na construção de edifícios, em especial de templos e palácios. Os filhos de Israel serviam em condições rigorosas. As suas vidas tornaram-se amargas por causa daquela dura escravidão e “os egípcios faziam servir os filhos de Israel com dureza” (Ex 1:13, 14). Mas esta cruel opressão não teve o resultado esperado: reduzir o seu número. Antes pelo contrário, “quanto mais os egípcios os afligiam, mais eles se multiplicavam e cresciam” (Ex 1:12).
O rei tentou depois, através de um acordo feito com as parteiras, destruir todos os bébés hebreus do sexo masculino que nascessem a partir daquele momento. Mas o desejo do rei não foi rigorosamente cumprido; os bébés foram poupados pelas parteiras e “o povo se multiplicou” mais do que nunca. Desta forma iludido, o rei fez sair um proclamação pública, apelando para que todo o povo egípcio matasse os bébés judeus do sexo masculino, deitando-os ao rio (Ex 1:22). Mas nem mesmo assim conseguiu o rei ver os seus intentos realizados.
Um dos lares ao qual este édito trouxe grande alarme foi o de Anrão, da família dos coatitas (Ex 6:16-20) que, com a sua mulher Joquebede, Míriam, uma rapariga com cerca de quinze anos e Aarão, um rapaz de três anos, morava em ou perto de Menfis, a capital nesse tempo. Neste calmo lar, nasceu um rapazinho (1571 AC). A sua mãe escondeu-o dentro de casa durante três meses, longe do conhecimento das autoridades cívicas. Mas quando esta tarefa se tornou mais difícil de realizar, Joquebede imaginou uma maneira de fazer com que a filha do rei prestasse atenção à criança. Construiu uma arca de juncos e colocou-a nos juncos à borda do rio, no local onde a princesa ia sempre tomar banho. O seu plano foi bem sucedido. A filha do rei “viu o menino e ouviu-o chorar”. A princesa enviou Míriam, que estava ali por perto, a buscar uma ama. Ela foi e trouxe a mãe da criança, a quem a princesa disse: “Leva este menino e cria-mo; eu te darei o teu salário.” Assim, o filho de Joquebede, a quem a princesa chamou “Moisés”, i.e., “salvo das águas” (Ex 2:10), foi-lhe restituído.
Mal o tempo para desmamar a criança terminou, Moisés foi transferido da humilde casa de seu pai para o palácio real, onde foi educado como filho adoptivo da princesa. Talvez a sua mãe ainda o acompanhasse e cuidasse dele. Ele cresceu por entre todo o esplendor, grandeza e excitação da corte egípcia, mantendo talvez uma constante amizade com a sua mãe, o que era da maior importância tanto para as suas crenças religiosas como para o interesse que ele deveria demonstrar pelos seus “irmãos”. Era, sem dúvida, dada muita atenção à sua educação e ele gozaria de todas as vantagens tanto da educação espiritual como física. Com o tempo, tornou-se “instruído em toda a ciência dos egípcios” (At 7:22). O Egipto possuía dois locais importantes de aprendizagem, ou universidades, numa das quais, provavelmente a de Heliópolis, ele terminou a sua educação. Moisés, agora provavelmente com vinte anos, passou ainda mais vinte antes de se tornar numa figura importante na história bíblica. Estes vinte anos foram possivelmente passados no serviço militar. Diz a tradição, registada por Josefo, que ele comandou a guerra entre os egípcios e a Etiópia, onde ficou conhecido como um general habilidoso e se tornou “poderoso em obras” (At 7:22).
Quando terminou a guerra com a Etiópia, Moisés voltou para a corte egípcia, onde esperava ser carregado de honras e riquezas. Mas “sob a calma corrente da sua vida até ali, uma vida alternada entre a luxuria na corte e a dureza no campo de batalha e no cumprimento dos seus deveres militares ocultava, desde a meninice até à juventude e da juventude até à idade adulta, um descontentamento secreto, talvez uma ambição. Moisés, naquele ambiente egípcio, nunca esquecera, nunca desejaria esquecer que ele era hebreu.” Ele, então, resolve familiarizar-se com os seus compatriotas e “saiu a seus irmãos e atentou nas suas cargas” (Ex 2:11). Esta inspecção revelou-lhe a cruel opressão e escravidão sob a qual todos eles gemiam e não podiam deixar de o pressionar para que tomasse em consideração os seus deveres para com eles. Chegara o tempo em que ele deveria fazer sua a causa deles, devendo, por isso, ajudá-los a quebrar o jugo da sua escravidão. Ele fez a sua escolha de acordo com as circunstâncias (Hb 11:25-27), seguro de que Deus abençoaria a sua resolução para o bem estar do seu povo. Ele deixou o palácio do rei e passou a viver provavelmente na casa de seu pai, como se fosse um dos hebreus que, há quarenta anos sofria cruelmente às mãos dos egípcios.
Ele não podia permanecer indiferente ao estado das coisas à sua volta e, um dia, ao sair por entre o povo, a sua indignação eriçou-se contra um egípcio que estava a maltratar um hebreu. Ele levantou irreflectidamente a sua mão e matou o egípcio, escondendo o corpo na areia. No dia seguinte saiu novamente e viu dois hebreus lutando. Logo descobriu que, o que ele fizera no dia anterior, já era conhecido. Este facto chegou aos ouvidos de Faraó (o “grande Ramsés”, Ramsés II), que “procurou matar Moisés” (Ex 2:15). Movido pelo medo, Moisés fugiu do Egipto e dirigiu-se à terra de Midiã, a parte sul da península do Sinai, talvez pelo mesmo caminho que, quarenta anos depois, ele conduziu os israelitas para o Sinai. Moisés foi providencialmente conduzido até à casa de Reuel, onde permaneceu durante quarenta anos (At 7:30), sendo inconscientemente educado para a grande obra da sua vida.
Então, o anjo do Senhor lhe apareceu na sarça ardente (Ex 3) e comissionou-o a ir ao Egipto e “a trazer os filhos de Israel” do cativeiro. Primeiro, ele não se mostrou muito disposto a ir mas depois obedeceu à visão celeste e partiu da terra de Midiã (Ex 4:18-26). No caminho encontrou-se com Aarão e com os anciãos de Israel (Ex 4:27-31). Ele e Aarão tinham uma dura tarefa perante eles; mas o Senhor estava com eles (Ex 4:7-12) e o exército resgatado avançou triunfalmente. Após uma viagem fértil em acontecimentos pelo deserto, vêmo-los acampados nas planícies de Moabe, prontos a atravessar o Jordão e a entrar na terra prometida. Aí chegados, Moisés falou com os anciãos (Dt 1:1-4; Dt 5:1-26:19; Dt 27:11-30:20) e deu ao povo os seus últimos conselhos e, então, entoou o seu último cântico (Dt 32), vestindo com palavras apropriadas as profundas emoções do seu coração e revendo aquela maravilhosa história em que ele representara um papel tão notável. Depois de abençoar as tribos, ele sobe “ao Monte Nebo, ao cume do Pisga, que está defronte de Jericó” (Dt 34:1) e daí observa a terra. “Jeová mostrou-lhe toda a terra desde Gileade até Dã e todo o Naftali e a terra de Efraim e Manassés e toda a terra de Judá, até ao mar último e o sul e a campina do vale de Jericó, a cidade das palmeiras, até Zoar” (Dt 34:2, 3), a magnífica herança das tribos de quem ele fora, por tanto tempo, o líder; e aí Moisés morreu com 120 anos, de acordo com o que Deus dissera, tendo sido sepultado pelo Senhor “num vale na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor” (Dt 34:6). O povo o pranteou durante trinta dias.
Assim morreu “Moisés, servo de Deus” (Dt 33:1; Js 14:6). Notabilizou-se pela sua mansidão, paciência e firmeza e “prosseguiu como que vendo o invisível”. “E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera cara a cara; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egipto, a Faraó e a todos os seus servos e a toda a sua terra; e em toda a mão forte e em todo o espanto grande, que obrou Moisés aos olhos de todo o Israel” (Dt 34:10-12).
O nome de Moisés aparece frequentemente nos Salmos e nos Profetas como o maior dos profetas.
No Novo Testamento ele é mencionado como o representante da lei e como um tipo de Cristo (Jo 1:17; 2Co 3:13-18; Hb 3:5, 6). Moisés é a única pessoa do Velho Testamento a quem Jesus se compara (Jo 5:46; comparar com Dt 18:15, 18, 19; At 7:37). Em Hebreus At 3:1-19, esta comparação é estabelecida em vários campos.
Em Jd 1:9 faz-se menção à contenda entre Miguel e o Diabo relativamente à posse do corpo de Moisés. Esta disputa está supostamente relacionada com a ocultação do corpo de Moisés, para evitar a idolatria.

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