quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Jerusalém


JERUSALÉM
Heb. Yerûshalayim.

Uma vez que o nome é confirmado, de diferentes maneiras, pelo menos desde o século XIX AC, é uma cidade de origem cananita ou amorreia, significando provavelmente “a cidades do (deus) Shalim”, mas em hebreu provavelmente “a cidade da paz”. Em textos egípcios dos séculos XIX e XVIII AC, o nome pronunciar-se-á Urusalimum. Nas cartas de Amarna do século XIV AC aparece como Urusalim. Em aramaico chama-se Yerûshelem e em grego Ierosoluma e Ierousalem. Uma das mais importantes cidades do mundo, a Santa Cidade de três grandes fés: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Para os judeus, era o local onde se situava o templo e também a capital da nação. Para os cristãos é o cenário do sofrimento, morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Para os muçulmanos é o local tradicional da ascensão de Maomé ao céu. Localiza-se a cerca de um terço da distância que vai desde a extremidade norte do Mar Morto até ao Mar Mediterrâneo, nas montanhas da Judeia.
O nome Salém (Heb. Shalem), que surge duas vezes no VT (Gn 14:18; Sl 76:2), é provavelmente a forma abreviada do nome completo. É também por este nome que é mencionada nas tabuínhas cuneiformes de Tell Mardikh, a antiga Ebla (Síria) do final do 3º milénio AC. A cidade era conhecida pelo nome de Jebus no período dos juizes (Jz 19:10, 11) e na altura em que David a tomou (1Cr 11:4, 5). Isto aconteceu porque os seus habitantes eram chamados jebuseus. Este nome não está confirmado fora da Bíblia. O seu nome árabe actual é el-Quds, “aquela que é santa”, mas para todos aqueles que não são árabes - judeus, cristãos e outros - ainda é conhecida por Jerusalém.
I - A Localização - A cidade fortificada de Jerusalém situa-se entre dois vales principais: o Cedrom a este e o Hinom a oeste e a sul. O planalto entre os dois vales onde a cidade está construída, está ligado ao planalto da Judeia, a norte. Este planalto está rudemente dividido em duas cordilheiras por um vale central, cujo nome não se encontra na Bíblia, mas que é denominado por Josefo como Vale Tyropoeon, ou “vale dos queijeiros”. Este vale era estreito e profundo mas no tempo dos macabeus encontrava-se cheio com os despojos de Acra, a fortaleza dos sírios, que Simão Macabeu demoliu. Actualmente, inicia-se na Porta de Damasco e é visível apenas como uma depressão superficial. As escavações efectuadas mostram que os escombros atingem uma profundidade de 30 metros. A cordilheira a Este atinge uma altura de cerca de 744 metros acima do nível do mar, num local onde o “castelo" (segundo algumas versões), ou “tenda” (segundo outras versões) de Antónia se situava, a norte do tempo. Este monte a norte da cordilheira oriental é chamado “o monte do templo”, ou “monte norte-oriental”. No VT surge como “Moriá" (Gn 22:2; 2Cr 3:1). A cordilheira oriental encontra-se dividida em duas secções (norte e sul) através de uma depressão superficial, actualmente cheia de despojos. A secção sul, o pontão que desce na direcção da junção dos vales Cedrom e Hinom, era o local original da cidade de David, que era conhecida por Jebus, Salém e Sião. A parte mais alta eleva-se a cerca de 695 metros acima do nível do mar. Esta área - a Jerusalém original - fica completamente fora das muralhas da cidade actual, que se situam a sul da área do templo.
A cordilheira ocidental é mais alta do que a oriental, elevando-se a uma altitude de cerca de 777 metros acima do nível do mar, 30 metros mais alta do que o monte do templo. Não se conhecem os antigos nomes das diferentes elevações desta cordilheira ocidental mas o monte a sudoeste foi, por vários séculos, erradamente identificado com “Sião” e ainda tem este nome actualmente, embora a maior parte deste monte talvez nunca tenha sido incluído na antiga cidade até aos tempos helenísticos. Uma boa parte do monte a noroeste localiza-se agora na zona noroeste da actual Cidade Velha de Jerusalém e inclui, como sua mais famosa estrutura, a Igreja do Santo Sepulcro.
O Vale de Cedrom, algumas vezes mencionado na Bíblia (2Sm 15:23; Jo 18:1, etc.) e actualmente chamado Wâdi en-Nâr, separa a cidade do Monte das Oliveiras, cujo pico mais alto se eleva a 835 metros acima do nível do mar. O Cedrom é um desfiladeiro estreito e profundo que serviu de apoio às defesas orientais da cidade. Nele se encontram as únicas fontes de água de Jerusalém: a nascente de Giom, nas vertentes ocidentais do vale; e Enrogel, um poço que se situa perto da confluência dos Vales de Hinom e Cedrom. O Vale de Hinom, actualmente chamado Wâdi er-Rabâbeh, é frequentemente mencionado no VT (Js 15:8; Js 18:16; etc.). É muito mais vasto do que o Cedrom e o Tyropoeon e as suas encostas são mais suaves. Este vale separa os montes mais altos a oeste e a sul da cordilheira sudoeste no planalto de Jerusalém.
II - História - Não se sabe quando é que Jerusalém foi fundada mas algumas escavações puseram a descoberto evidências que provam que já existia durante a 12ª dinastia egípcia (século XIX e XVIII AC), altura em que alguns textos egípcios mencionam a cidade e os seus governantes amorreus, Yaqar-‘Ammu e Sasa‘-‘Anu, como sendo reais ou potenciais inimigos do Egipto. Durante este período, o VT menciona a cidade pela primeira vez sob o nome de Salém, cujo governante - Melquisedeque - era, na altura, um sacerdote do Deus Altíssimo e, portanto, com poder para abençoar Abraão e receber o dízimo do despojo que o patriarca tomara de Quedorlaomer e dos seus confederados (Gn 14:18-20).
Jerusalém é mencionada no livro de Josué como sendo a cidade principal de uma coligação de cidades-estado cananeias que lutaram contra os israelitas. O seu rei, nessa altura, era Adonizedeque que, juntamente com os seus aliados, foi derrotado na batalha de Azeca, tendo sido capturado e executado por Josué (Js 10:1-27). Pouco depois, no tempo do rei Ikhnatom do Egipto, um rei chamado ‘Abdu-Heba ascendeu ao trono de Jerusalém. O seu nome significa “servo (da deusa hitita) Heba” e é possível que fosse de ascendência hitita. Se assim for, ele e os dois reis amorreus já mencionados seriam a prova de que a população que inicialmente habitava em Jerusalém incluía hititas e amorreus. Isto é reflectido nas palavras de Ezequiel, que disse de Jerusalém: “o teu pai era amorreu e a tua mãe heteia” (Ez 16:3; cf. vers. Ez 16:45). Entre as Cartas de Amarna encontram-se algumas que ‘Abdu-Heba escreveu a Ikhnaton e nas quais ele se queixa amargamente da invasão dos ‘Apiru, ou Habiru (provavelmente os hebreus) e da inactividade do Egipto, tendo daí resultado a captura do país secção por secção. Em Jz 1:8 encontra-se registado o relato da captura e destruição de Jerusalém levada a cabo por Judá após a morte de Josué, mas a esta vitória não se seguiu a ocupação da cidade pelos israelitas; Jerusalém permaneceu nas mãos dos cananeus ou jebuseus até à altura em que David a conquistou (Js 15:63; cf. Jz 19:11, 12).
Depois que David foi coroado rei sobre todas as tribos de Israel, ele decidiu transferir a sua capital da importante cidade judaica de Hebrom para um local neutro. Escolheu, então, Jerusalém, que se situava na fronteira entre Judá e Benjamim mas que não pertencia a nenhuma destas tribos. Os jebuseus troçaram de David quando ele cercou a cidade, pois estavam convencidos de conseguirem manter nas suas mãos a bem fortificada cidade situada nas montanhas. Contudo, Joabe e os seus homens obtiveram acesso subindo pelo Sinnôr, que provavelmente se refere ao poço de água que ligava a nascente de Giom ao interior da cidade (2Sm 5:6-8). No tempo de David, ficou conhecida por “cidade de David” (1Cr 11:7; 2Sm 5:7). David construiu ali um palácio (2Sm 5:11) e também algumas fortificações (ver Ct 4:4), que menciona a torre de David; cf. 1Cr 11:8). Esta torre não é a mesma que se encontra na actual cidadela de Jerusalém, uma vez que esta última é uma das torres do palácio construído por Herodes, o Grande. David também construiu um local, ou estrutura, chamado “Milo” (2Sm 5:9; 1Cr 11:8). A partir de outros textos (1Rs 9:15, 24; 1Rs 11:27; 2Cr 32:5), é provável que Milo se situasse dentro da cidade e que fosse periodicamente alargado e fortificado. Aparentemente, fazia parte do sistema de fortificações da cidade no seu ponto mais fraco, que terá sido a extremidade norte do monte a sudeste. A LXX identifica-o com Acra, uma cidadela a sul do templo que ali permaneceu até aos dias de Judas Macabeu. O nome hebraico millô’, que significa “encher”, tem sido explicado de várias maneiras. Poderá ter sido uma muralha dupla cheia de terra, ou uma plataforma sobre a qual se construíram as fortificações.
Quando David transferiu a arca para Jerusalém, colocou-a temporariamente numa tenda. Deus não permitiu que ele construísse um templo. Contudo, David preparou tudo para a sua construção e a eira de Araúna, que ele comprara, foi utilizada para tal efeito, tendo o templo sido construído por Salomão (2Sm 6:17; 2Sm 24:24; 1Cr 28:2, 3, Js 19-21; 2Cr 3:1). Quando David morreu, foi sepultado na cidade de David (1Rs 2:10). Todos os reis de Judá até Acaz foram sepultados no sepulcro real. A localização deste sepulcro ainda é desconhecida, embora uma comparação entre Ne 3:16 e os vers. Ne 3:15 e 3:26 pareça mostrar que ele se situava entre o poço de Siloã e a porta das águas. Foi sugerido que o percurso sinuoso do túnel de Siloã fosse o resultado de se tentar evitar os túmulos reais.
Com Salomão, que era um grande construtor, despontou uma nova era para Jerusalém. A cidade foi alargada para norte e possivelmente para noroeste. O templo, que se encontrava rodeado por um pátio, foi erigido no monte a norte, a oeste da actual Catedral da Rocha que cobre a rocha onde se crê tenha estado o altar das ofertas queimadas (1Rs 6:1-38; 2Cr 3:1). Foi provavelmente entre o templo e a cidade de David que Salomão erigiu um palácio para si (1Rs 7:1), palácio esse, chamado “a casa do rei” (1Rs 9:1). Poderá ter-se tratado de um complexo de estruturas que incluía: ( uma “casa para a filha de Faraó”, que provavelmente fazia parte do harém (1Rs 7:8; 1Rs 9:24), podendo formar com o palácio uma única unidade. Este era provavelmente rodeado por um “outro pátio”, sendo talvez o mesmo local denominado por “meio do pátio” e “pátio da guarda” (1Rs 7:8; 2Rs 20:4; Jr 32:2; etc.); ( um pórtico ou ante-câmara (segundo algumas versões) do juízo (1Rs 7:7), onde se situava o trono; ( um pórtico de colunas, talvez a ante-câmara de audiências (vers. 1Rs 7:6), que era provavelmente uma entrada para a ante-câmara principal, se não se tratasse mesmo de um edifício separado; ( a “casa do bosque do Líbano”, possivelmente assim chamada porque os seus 45 pilares, compostos em três filas, foram construídos em madeira de cedro do Líbano. Salomão acrescentou, assim, toda uma nova zona à cidade e não haverá dúvidas de que a expansão da sua administração trouxe para Jerusalém muitas outras pessoas para quem era preciso providenciar residência. Esta nova zona foi, então, rodeada por uma muralha que circundou “Jerusalém em roda” (cap. 1Rs 3.1; cf. cap. 1Rs 9:1.
Quando o reino se separou depois da morte de Salomão, mais de ¾ do seu reino foram tomados por Judá e Jerusalém perdeu muito da sua importância. Consequentemente, a cidade não voltou a expandir-se durante vários séculos, embora se fizessem algumas reparações de vez em quando, especialmente após alguma batalha. No tempo de Roboão, o filho de Salomão, Sisaque do Egipto conquistou Jerusalém, levando consigo muitos despojos (1Rs 14:25-28; 2Cr 12:2-11). Não se sabe se, nessa altura, a cidade caiu após o cerco, ou se sofreu algum dano, ou ainda se Roboão se rendeu sem luta. Foi também tomada por Joás, de Israel, no tempo do rei Amazias. Joás destruiu cerca de 183 metros da sua muralha ocidental, desde a Porta de Efraim até à Porta de Esquina (2Rs 14:13). Este dano perpetrado contra as fortificações de Jerusalém deve ter sido reparado, embora não esteja registado. Na verdade, não estão registadas quaisquer actividades de reparação ou construção entre os reinados de Salomão e Uzias, com excepção de algumas obras de reparação no templo levadas a cabo por Joás, de Judá (2Rs 12:4-15; 2Cr 24:4-14).
O rei Uzias parece ter sido o primeiro rei em 200 anos a efectuar um qualquer tipo de construção apreciável em Jerusalém. Construiu algumas torres na Porta de Esquina, na Porta do Vale e nos ângulos da muralha (2Cr 26:9). O seu filho Jotão continuou a sua obra e construiu a Porta Superior do Templo, realizando também algumas obras no Muro de Ofel (2Cr 27:3). Do tempo de Ezequias também estão registadas grandes obras de construção. Este rei fez preparações febris para o fortalecimento das fortificações de Jerusalém, a fim de que a cidade fosse capaz de suportar um cerco por parte dos assírios. Construiu um grande túnel entre Giom e o tanque de Siloam (2Rs 20:20; 2Cr 32:4, 30) e, deste modo, conseguiu levar água até à cidade. Nessa mesma altura, ele construiu uma segunda muralha que circundou a parte sul do monte ocidental, tal como mostra a muralha descoberta por N. Avigad, trazendo para dentro das fortificações da cidade o tanque recentemente construído. Reconstruiu também o Milo na antiga cidade de David (2Cr 32:5; Is 22:10, 11).
Embora muitas outras cidades fortificadas de Judá tivessem sido destruídas pelas forças invasoras de Senaqueribe no tempo de Ezequias (2Rs 18:13), Jerusalém foi poupada e emergiu ilesa deste período difícil (cap.2Rs 19:32-36). Manassés, filho de Ezequias, construiu uma segunda muralha a nordeste, perto da Porta do Peixe (2Cr 33:14). Não se sabe se Jerusalém sofreu durante o reinado de Manassés, embora esteja registado que ele foi levado cativo pelos asssírios e que passou algum tempo numa prisão babilónica (vers. 2Cr 11). Poderá ter-se rendido aos assírios sem luta, embora a cidade possa ter sido cercada e capturada. Pouco tempo depois, no reinado de Josias, menciona-se pela primeira vez Jerusalém “na segunda parte” (Heb. mishneh, segundo algumas versões, “colégio”), zona na qual Hulda, a profetisa, morava (2Rs 22:14; 2Cr 34:22; cf. Sf 1:10). Não é certo se isto se refere à nova zona acrescentada a Jerusalém por Manassés, ou à zona noroeste já fortificada no tempo de Salomão.
O bom rei Josias fez reparações adicionais no templo (2Rs 22:3-7; 2Cr 34:8-13) e durante o seu reinado, Jerusalém experimentou uma grande reforma religiosa. Contudo, a sua morte repentina pôs fim a este último reavivamento espiritual e os seus sucessores caíram na idolatria e na impiedade. Como resultado, Jerusalém foi capturada três vezes num período de vinte anos: primeiro em 605 AC durante o reinado de Joaquim (Dn 1:1, 2); depois em 597 AC, altura em que Joaquim foi levado cativo (2Rs 24:10-16); e finalmente em 586 AC, no décimo-primeiro ano de Zedequias, quando Jerusalém foi destruída após um longo cerco e Zedequias foi levado cativo para Babilónia, com a maior parte da população de Judá (cap. 2Rs 25:1-21).
Depois de Jerusalém ter permanecido em ruínas durante cerca de cinquenta anos, regressou de Babilónia o primeiro grande grupo de cativos conduzido por Zorobabel. Isto aconteceu provavelmente em 536 AC, setenta anos (inclusive) depois da primeira deportação em 605 AC (ver Jr 25:11, 12; Jr 29:10). Este grupo logo se predispôs a reconstruir o templo mas eles experimentaram tanta oposição por parte dos samaritanos, para além de outras dificuldades, que a obra só terá realmente começado no segundo ano de Dario I, em 520/19 AC; o templo ficou finalmente pronto e foi dedicado a Deus em 515 AC, no sexto ano de Dario I (Ed 1:1-4; Ed 3:1-13; Ed 4:1-5, 24; Ez 5:1 a 6:16). No sétimo ano de Artaxerxes I, Esdras foi autorizado a levar consigo para Jerusalém um segundo grupo de cativos (Ed 7:6 a 8:32). Ele reorganizou a província e estabeleceu uma administração baseada na lei judaica em 457 AC. Foi provavelmente nos anos que se seguiram que os judeus de Jerusalém começaram a reconstruir a muralha da cidade. Contudo, mais uma vez, foram impedidos pelos seus inimigos (Ne 1:3), até que Neemias conseguiu que Artaxerxes I o nomeasse governador. Neemias foi para Jerusalém em 444 AC e terminou as obras de reparação em algumas semanas, apesar dos muitos obstáculos (cap. Ne 2:1 a 4:23; Ne 6:15).
A muralha de Neemias, sobre a qual existe informação detalhada (Ne 2:12-15; Ne 3:1-32; Ne 12:27-40), parece ter seguido a muralha da Antiga Cidade, tal como era na altura em que Jerusalém foi destruída por Nabucodonozor. Na sua descrição, ele menciona a maior parte das portas da cidade, assim como outras características topográficas, embora nem todas possam ser definitivamente identificadas. As localizações das várias portas da cidade, torres e outras estruturas referidas por Neemias são mencionadas sob os seus respectivos nomes em artigos separados.
Pouco se sabe da história de Jerusalém nos 250 anos que se seguiram a Neemias. Josefo relata uma discussão que teve por base o sumo sacerdócio e durante a qual Joanã matou o seu irmão no templo. Por causa disso, o governador persa castigou severamente a nação. Josefo também fala de uma visita de Alexandre, o Grande, a Jerusalém, altura em que a profecia de Daniel (aparentemente o cap. 8) lhe foi explicada. De acordo com Josefo, isto causou-lhe uma tal impressão, que ele se tornou amigo dos judeus. No tempo dos sucessores de Alexandre, Jerusalém foi uma capital administrada pelos sumos sacerdotes, umas vezes sob a soberania dos Ptolomeus do Egipto e outras sob o domínio dos Seleucidas da Síria.
Durante este período, Jerusalém foi grandemente influenciada pelo helenísmo. A língua, o modo de pensar, o modo de vestir e os costumes gregos tornaram-se moda, especialmente entre as classes dominantes que estavam em contacto directo com os estrangeiros. Uma facção, conhecida por Helenizadores, quis tornar Jerusalém numa cidade grega, tal como muitas outras fundadas ou reconstruídas pelos governantes helenísticos das áreas vizinhas. Para isso, criaram um ginásio grego e também implementaram os jogos atléticos. Mas o povo judeu opôs-se desesperadamente quando um dos governantes seleucidas, Antíoco IV Epifânio, fez uma tentativa determinada para helenizar os judeus à força, profanando o templo ao sacrificar animais impuros às deidades pagãs. Este facto esteve na origem da revolta macabeia e das guerras entre os sírios e os judeus, guerras das quais os macabeus saíram vencedores. Quando fizeram de Jerusalém a capital da sua nação independente, deu-se um grande crescimento, quer físico, quer em importância. A primeira mudança ocorreu quando Judas Macabeu tomou Jerusalém em 165 AC e rededicou o templo a Deus. Alguns anos mais tarde, o seu irmão Simão capturou a cidadela - Acra -, que parece ter-se localizado a sul do templo. Destruiu-a completamente, assim como o topo do monte onde ela se situava, usando os escombros para cobrir o Vale Tyropoeon Central, que se localizava entre as cordilheiras ocidental e oriental da cidade. Os governantes macabeus da Judeia construíram um palácio no monte ocidental que, nessa altura, se encontrava incluído no sistema defensivo da cidade. Construíram também uma cidadela a norte do templo, mais tarde conhecida por castelo, ou torre, de Antónia.
Pompeu e o seu exército romano capturaram Jerusalém em 63 AC, derrubando parte da sua muralha. Crassus saqueou o templo em 54 AC e os parcianos pilharam a cidade em 40 AC. Três anos mais tarde, Jerusalém foi capturada por Herodes, o Grande. Este restaurou as muralhas e adornou a cidade com muitas novas estruturas, tais como um palácio com três torres, chamadas Hippicus, Phasaelus e Mariamne (onde a “Cidadela “ agora se situa), um ginásio, um hipódromo e um teatro. Reconstruiu também a fortaleza conhecida por “a torre”, ou “castelo” (segundo algumas versões), ou “barracas” (segundo outras versões) de Antónia (At 21:34, 37; At 22:24; etc.). Nesta altura, o templo tinha cinco séculos e precisava urgentemente de reparações. Herodes queria mais do que repará-lo; ele planeava reconstruí-lo completamente. Isso implicava muitas alterações nas muralhas e fortificações do templo. Esta sua mais ambiciosa obra começou em 20/19 AC. O edifício central do templo ficou completamente construído em dezoito meses mas as outras construções da grande área do templo só terminaram por volta de 64 DC, dois anos antes do eclodir da revolta judaica contra os romanos.
Arquelau, o sucessor de Herodes, não realizou grandes construções mas Agripa I edificou o que ficou conhecido por terceira muralha. Alguns pensam que seguiu o percurso das muralhas norte e ocidental da actual Antiga Cidade, até à Porta de Jafa. Outros, contudo, acreditam que a terceira muralha percorre cerca de 460 metros a norte da actual Antiga Cidade, onde partes da velha muralha foram escavadas em vários locais, podendo, por isso, ser seguida durante alguns metros. Outros mantêm que a terceira muralha foi uma estrutura erigida à pressa no século II DC, por altura da revolta de Bar Cocheba.
No tempo de Herodes, o Grande (37-4 AC), no tempo do seu filho Arquelau (4 AC - 6 DC) e no tempo de Agripa I (41-44 DC), Jerusalém foi a capital do país mas não durante os dois períodos em que os procuradores romanos governaram a Judeia (6-41 DC e 44-66 DC). Estes fizeram de Cesareia a sua capital e só iam a Jerusalém durante as festas mais importantes, para o caso de surgirem problemas. Geralmente, só uma guarnição se encontrava estacionada no castelo de Antónia, a fim de garantir a lei e a ordem na cidade.
Quando eclodiu a revolta contra Roma na primavera de 66 DC, muito sangue foi derramado em Jerusalém. Sob a administração de Gessius Florus, o último procurador da Judeia, os judeus começaram a massacrar os gentios e estes passaram também a massacrar os judeus, até que toda a semelhança de ordem e governo desapareceu. Cestius Gallus, o emissário da Síria tomou o comando da Judeia e no outono de 66 DC marchou contra Jerusalém. Embora a certa altura tivesse atingido a muralha norte do templo, foi repelido e, por alguma razão desconhecida, retirou-se, perdendo muitos dos seus soldados nesse processo de retirada. Os cristãos, lembrando-se do aviso de Jesus (Mt 24:15-20), aproveitaram a oportunidade para saírem de Jerusalém, encontrando refúgio em Pela, na Pereia. Desde o final do ano 66 DC até à primavera de 70 DC, Jerusalém não sofreu qualquer ataque directo por parte dos romanos. Vespasiano, ao chegar ao país em 67 DC, seguiu o seu plano de o submeter ao seu controlo, permitindo que as várias facções políticas em Jerusalém se guerreassem, tornando-se, deste modo, cada vez mais fracas. Em 69 AC, quando Vespasiano foi proclamado imperador, a maior parte da Palestina encontrava-se nas mãos dos romanos mas transformara-se num deserto. Tito, o filho de Vespasiano, tomou o comando do exército e preparou-se imediatamente para capturar Jerusalém, a forte capital da Judeia.
Durante os três anos de guerra com Roma, houve um grande influxo de pessoas que entrou em Jerusalém. Tinham chegado à cidade, sem cessar, ondas de refugiados, entre os quais se encontravam grupos de soldados pertencentes a diferentes facções e comandados por líderes rivais. João de Gischala, na Galileia, era o líder dos zelotes, que se estabeleceram na zona baixa do templo. Simão bar Giora, o líder dos saqueadores, ocupou a zona superior da cidade; e Eleazer, filho de Simão, também um líder rebelde, tomou conta da parte superior do templo. Quando Tito deu início ao cerco de Jerusalém, com 80.000 soldados romanos, em Abril de 79 DC, os três líderes e os seus seguidores encontravam-se envolvidos em batalhas sangrentas uns contra os outros. Foram lutas implacáveis que duraram todos os cinco meses do cerco romano, em que uma secção após outras foi capturada e a fome imperava. Mais de 100.000 judeus morreram na cidade entre o início de Maio e o final de Julho. Nessa altura, o castelo de Antónia foi tomado e os sacrifícios do templo terminaram. Em Agosto, de acordo com o relato de Josefo, o templo foi conquistado e, novamente sob o comando de Tito, foi queimado. O monte a sudoeste de Jerusalém, chamado “A Cidade Superior”, caiu nas mãos dos romanos em Setembro. Josefo declara que mais de um milhão de judeus perdeu a vida durante o cerco de Jerusalém e que outros 97.000 foram feitos prisioneiros, entre os quais se encontravam João de Gischala e Simão bar Giora. A cidade foi arrasada para que o mundo visse que até as mais fortes muralhas não podiam suster o exército romano. Somente três torres do palácio de Herodes e parte da muralha ocidental permaneceram de pé como monumentos da anterior glória de Jerusalém e a fim de servirem como posto militar para a guarnição romana.
Jerusalém recuperou lentamente desta catástrofe mas quando o imperador Adriano a refortificou e começou a reconstruí-la como cidade gentílica, os judeus revoltaram-se novamente, desta vez sob o comando de Bar Cocheba, em 132 DC. Depois que esta revolta foi esmagada em 135 DC, a reconstrução da cidade foi retomada e terminada e todos os judeus foram banidos de lá. O seu nome passou a ser Colonia Aelia Capitolina, indicando que era uma colónia romana assim denominada em honra de Adriano, cujo nome completo era Publius Aelius Hadrianus, tendo também sido dedicada a Jupiter Capitulinus. O templo a este deus romano foi construído no local do antigo templo. Os cristãos também se instalaram em Jerusalém e no século IV, esta tornou-se praticamente numa cidade cristã. Helena, mãe de Constantino, construiu uma igreja no Monte das Oliveiras em 326 DC e em 333 DC, Constantino construiu a Igreja do Santo Sepulcro no local onde, supostamente, Jesus terá ressuscitado. A interdição contra os judeus foi levantada nessa altura.
Em 614 DC, os persas, sob as ordens de Chosroes II, capturaram Jerusalém, destruíram a Igreja do Santo Sepulcro, massacraram milhares dos seus habitantes e levaram cativos outros tantos milhares. A cidade foi recapturada pelo imperador romano Heraclio quatorze anos mais tarde, rendendo-se aos árabes sob o comando de Omar em 638 DC. Desde então e na maior parte do tempo, esteve sob domínio muçulmano. O local onde o templo de situava tornou-se num valado muçulmano sagrado chamado Haram esh-Sherîf, onde se encontra o terceiro santuário muçulmano mais sagrado, a Catedral da Rocha (erradamente apelidada de Mesquita de Omar). Encontra-se no local onde se acredita ter-se situado o altar de bronze de Salomão. Na extremidade sul do valado está a Mesquita el-Aqsa. Embora existissem períodos em que os cristãos foram humilhados em Jerusalém, no seu todo não foram muito maltratados, sendo geralmente tolerados. A situação mudou quando os bárbaros turcos, denominados por Seljuk, tomaram Jerusalém em 1077 DC. Toda a Europa se mostrou indignada com as humilhações que os cristãos sofreram na Santa Cidade. Daí resultaram as cruzadas. Em 1099 DC, Jerusalém foi conquistada, sendo aí estabelecido um reino cristão que durou 88 anos. Em 1187, Saladim, sultão do Egipto e da Síria, tomou a cidade e reconstruiu as suas fortificações. Jerusalém foi devolvida aos cristãos por mais dois períodos: primeiro em 1229 DC, quando o Imperador Frederico II da Alemanha a obteve para si por meio de um tratado e os cristãos a mantiveram em seu poder durante dez anos e novamente em 1243 DC, quando foi incondicionalmente dada aos cristãos. Mas um ano mais tarde, foi tomada pelos turcos Khwarazm, depois caiu nas mãos dos egípcios e, em 1517, os turcos otomanos conquistaram-na, mantendo-a em seu poder até 1917, quando Jerusalém se rendeu aos britânicos, sob o comando do General Allenby. A actual muralha que rodeia a chamada Velha Cidade foi construída pelo sultão turco Suleiman, o Magnífico, em 1542. No tempo em que a Palestina foi um território sob governação britânica (1923-1948), Jerusalém foi a sua capital. Durante a guerra judaico-árabe em 1948, houve uma grande batalha em Jerusalém e o bairro judaico da Velha Cidade murada foi completamente destruído. Entre 1948 e 1967, a cidade foi dividida. A parte principal da cidade actual fora das muralhas, situando-se na sua maioria a oeste da Velha Cidade, ficou nas mãos dos israelitas e tornou-se na capital do Estado de Israel. A sua população, em 1967, elevava-se a cerca de 200.000 pessoas. A Velha Cidade, dentro das muralhas, ficou na posse dos árabes, formando parte do Reino Hachemita do Jordão. A nova cidade árabe espalhou-se para norte da Velha Cidade. A zona de Jerusalém na posse dos árabes possuía uma população de cerca de 70.000 pessoas em 1967. Como resultado da vitória israelita na guerra dos seis dias em 1967, Jerusalém foi reunificada e o bairro judaico que, dentro da Velha Cidade se encontrava destruído, foi reconstruído e repovoado pelos judeus. O estado legal da cidade não será decidido até que seja conseguido um ajustamento político para o país.
III - História da Investigação Arqueológica em Jerusalém - A obra arqueológica tem sido levada a cabo em Jerusalém há mais de cem anos; por um lado, tem sido realizada por eruditos aí residentes, sacerdotes e outros e, por outro lado, por escavações organizadas. Ao primeiro grupo pertence Charles Clermont-Ganneau (1846-1923), que foi para Jerusalém em 1867 e viveu no Oriente durante vários anos. As suas descobertas, estudos topográficos e publicações tornaram-se num bom fundamento sobre o qual os outros eruditos construíram. Entre as suas mais importantes descobertas encontram-se as Inscrições Gregas de Aviso, que Herodes colocou no Templo, e duas inscrições tumulares do tempo de Ezequias, encontradas em Silwan. Um outro residente em Jerusalém durante muitos anos, um arquitecto, o Dr. Conrad Schick (1822-1901), foi incansável nas suas investigações, a fim de reconstruir a história antiga da Cidade Santa. Gustaf Dalman (1855-1941), o director do Instituto Arqueológico Alemão em Jerusalém, entre 1902 e 1914, L.-H. Vincent, da Escola Bíblica Francesa, durante meio século e W. F. Albright, durante dez anos director da Escola Americana de Investigação Oriental em Jerusalém ocupam o primeiro lugar entre os que clarificaram a extremamente difícil história arqueológica da Jerusalém antiga.
As escavações sistemáticas iniciaram-se em 1867, quando Charles Warren trabalhou em Ofel para o recentemente formado Fundo de Exploração da Palestina. Através de profundos poços e túneis (para cima de 25 metros), ele localizou parte do que restava das primeiras muralhas. Às suas descobertas pertence a “muralha Warren de Ofel”, a sul da esquina sudeste de Haram esh-Sherîf, que data do tempo do antigo Israel. Descobriu também o poço que os jebuseus cavaram, a fim de providenciarem um acesso que fosse desde a cidade até à nascente de Giom. Fez também escavações junto à Porta da Corrente, em Haram esh-Sherîf, que provaram que a rua actual que dá acesso à Porta se dirige para o “Arco de Wilson”, um antigo viaduto que cruza o Vale Tyropoeon. Entre 1880 e 1881, Hermann Guthe, assistido por Conrad Schick, levou a cabo algumas escavações à volta da saída do túnel de Siloam, na vertente sul do monte a sudeste, pondo a descoberto porções da antiga muralha da cidade, na encosta este do monte a sudeste. Entre 1894 e 1897, Bliss e Dickie exploraram as fortificações a sul da antiga cidade para o Fundo de Exploração Palestiniano. Descobriram a antiga muralha a sudeste do Tanque de Siloam, puseram a descoberto a muralha que atravessava o Vale Tyropoeon, muralha essa que continuava pelas encostas a sul do monte a sudoeste. Durante as escavações clandestinas levadas a cabo, entre 1909 e 1911, pelo Capitão M. Parker (que procurava os tesouros escondidos do Templo), foi desimpedido o túnel de Siloam e L.-H. Vincent foi capaz de indicar no mapa este túnel e também outras partes dos antigos sistemas de água ligados à nascente de Giom. Em 1913, Raymond Weil deu início a umas escavações ambiciosas para o Barão E. de Rothschild, planeando sistematicamente colocar a descoberto toda a zona sul do monte a sudeste. O eclodir da Primeira Grande Guerra logo pôs termo a esta obra. Mas ele descobriu na parte sul do monte a sudeste uma grande torre redonda, provavelmente de origem hebraica. Encontrou também uma inscrição grega da sinagoga de Teodoto. Continuou as suas escavações durante mais uma época (1923 a 1924), durante as quais descobriu uma parte da muralha sul, colocando também a descoberto um túmulo que poderá ter pertencido à necrópole real dos reis de Judá; uma vez que os túmulos desta área há muito que se encontravam todos destruídos e não existia material que não tivesse sido estratigraficamente perturbado, a sua natureza continua incerta. Macalister e Duncan escavaram a zona este de Ofel entre 1923 e 1925 para o Fundo de Exploração da Palestina. A sua principal descoberta foi uma parte de uma fortaleza e de uma torre confinante, que eles interpretaram como pertencendo às fortificações jebusaicas e davídicas e que investigações posteriores mostraram que datavam do tempo de Neemias. Outra escavação importante, efectuada para a Escola Britânica de Arqueologia na Palestina e para o Fundo de Exploração da Palestina, foi levada a cabo por J. W. Crowfoot e G. M. Fitzgerald na zona ocidental do monte a sudeste em 1927. Eles descobriram uma porta da cidade, talvez a “Porta do Vale” do VT, com uma estrada que ia desde esta porta até ao Vale Tyropoeon.
A norte, foram levados a cabo três importantes empreendimentos. Entre 1925 e 1927, Sukenik e Mayer, da Universidade Hebraica de Jerusalém, puseram a descoberto grandes porções da muralha que se situava mais a norte e que eles denominaram por “a terceira muralha”. Outros sectores desta muralha têm vindo a ser descobertos e escavados ocasionalmente desde então. Johns, do Departamento Britânico de Antiquidades, efectuou escavações dentro da Cidadela entre 1934 e 1940, mostrando que as torres do palácio de Herodes se situavam sobre as fundações que remontavam aos tempos helenísticos. Novas escavações levadas a cabo por R. Amiran e A. Eitan entre 1968 e 1969 aperfeiçoaram e completaram o quadro apresentado por Johns. Entre 1937 e 1938, Hamilton, também do Departamento de Antiquidades, levou a cabo algumas sondagens fora da muralha a norte da actual Antiga Cidade e da Porta de Damasco. As escavações efectuadas junto desta porta foram retomadas por Hennessy entre 1964 e 1966. Mostraram que a actual Porta de Damasco se encaixa numa estrutura que foi originalmente construída por Agripa I no século I DC e que foi, mais tarde, reconstruída por Adriano no século II.
Também foram levadas a cabo escavações dentro da cidade, principalmente em conventos e igrejas. Estas escavações esclareceram algumas questões relativas à extensão da Torre de Antónia, à cidade do tempo de Constantino e às estruturas erigidas no seu tempo.
Têm sido efectuadas escavações, com resultados extremamente importantes, desde 1961, primeiro por K. Kenyon até 1967 e desde a guerra dos seis dias, em 1967, por arqueólogos judaicos. Só aqui serão mencionadas as mais importantes.
As escavações de Kenyon clarificaram e corrigiram descobertas anteriores das fortificações antigas na zona este de Ofel. Ela descobriu as muralhas jebusaicas e davídicas da antiga Jerusalém e provou que as ruínas das fortificações (que se pensavam ser do tempo dos jebuseus e de David) foram, de facto, erigidas por Neemias.
Em Muristan, a sul da Igreja do Santo Sepulcro, foi escavado um fosso no leito de uma rocha, mostrando que esta área se situava fora das muralhas da cidade no tempo de Cristo. Estas provas foram mais tarde confirmadas por escavações levadas a cabo por U. Lux durante as obras de restauro da Igreja Luterana do Redentor, que se situa entre Muritan e a Igreja do Santo Sepulcro. Estas descobertas mostraram que o Santo Sepulcro, construído no século IV e no local que os cristãos contemporâneos consideravam como sendo o lugar onde a crucificação e o sepultamento de Cristo aconteceram, se localizava num sítio que, no tempo de Cristo, ficava fora da cidade. Portanto, é possível que este local tradicional seja o local dos sofrimentos e ressurreição de Cristo.
As escavações efectuadas por Mazar desde 1968 a oeste e a sul da área do templo colocaram a descoberto, para além das ruínas da Jerusalém bizantina e islâmica, importantes achados da cidade herodiana do tempo de Cristo. Estes achados incluíam umas escadas monumentais com 64 metros de largura e que iam desde Ofel, a zona baixa de Jerusalém, até à Porta de Hulda, que dava acesso à área do Templo, para quem vinha do sul.
As escavações realizadas no bairro judaico da Cidade Velha desde 1969 sob a direcção de Avigad mostraram as ruínas de várias casas destruídas em 70 DC. Ainda continham muitos dos seus utensílios e móveis. A mais importante descoberta, contudo, foi uma secção da muralha da cidade, erigida no século VIII AC provavelmente pelo rei Ezequias, que cercou a nova área situada no monte ocidental de Jerusalém. Foram escavados cerca de 65 metros desta muralha, que tem cerca de 7 metros de largura e que foi preservada até uma altura de 3 metros. Também foi descoberta por Avigad uma torre pertencente à muralha ocidental de Jerusalém e que se provou ter sido destruída pelos babilónios em 586 AC. Estas descobertas necessitaram da correcção do plano da antiga Jerusalém.
IV - Os Resultados de Um Século de Investigações Arqueológicas em Jerusalém - Embora ainda não tivessem sido resolvidos muitos dos problemas históricos e topográficos, poderão mencionar-se alguns resultados positivos. A localização e tamanho da Jerusalém jebusaica e da Cidade de David foram estabelecidos com toda a certeza. Também o percurso das muralhas dessa cidade mais antiga e a localização de algumas das suas portas podem agora ser conhecidos. As obras relativas ao transporte de água efectuadas pelos jebuseus e por Ezequias foram exploradas. Também a extensão aproximada da área do templo e a localização do templo dentro dessa área foram estabelecidas. Igualmente conhecidas são a localização e extensão da Torre de Antónia, do palácio de Herodes, do tanque de Betesda, do tanque de Siloam, da nascente de Giom, do poço de Enrogel e dos Vales Cedrom e Hinom. Ainda por conhecer está a maior parte do percurso exacto das muralhas da cidade durante os vários períodos da história da antiga Jerusalém.
( Seventh-Day Adventist Bible Dictionary )

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